sexta-feira, setembro 29, 2006

Da chatice do politicamente correto...

Caros amigos, constantemente eu venho sendo chamado a atenção devido a alguns "deslizes" nos termos que utilizo para algumas brincadeiras. Sinto na pele, quase que diariamente, algumas restrições relativas, principalmente, às brincadeiras que costumo fazer que, para alguns, são politicamente incorretas ou homofóbicas, sexistas, racistas, facistas e mais todos os "istas" que puderem imaginar. Entretanto, acho a imposição dos termos "politicamente corretos" uma chatice e uma verdadeira castração intelectual e humana.
Considero que a emergência do que se convencionou chamar de politicamente correto está relacionada à dinâmica da pós-modernidade. A pós-modernidade, em minha concepção ainda incipiente da mesma, admito, trouxe novas e importantes dimensões à questão de classe que se tornou clássica desde os ensinamentos do velho Marx. Agora não tratamos apenas da dicotomia entre o proletariado e a burguesia, entre o trabalho e o capital, entre o elemento revolucionário e o retrógrado. Tratamos hoje de questões mais complexas e que, sem dúvida, permitem que as pessoas estejam em lados opostos em um momento e sejam aliadas em outro. Estou lhes falando que a pós-modernidade incorporou na dinâmica de classe tradicional novos elementos como as questões de gênero, de sexualidade, de raça e de identidade de uma maneira geral. Sendo elementos principais da nova esquerda, a esquerda cultural, esses novos elementos passaram a interagir a se articular aos antigos padrões classistas. Óbvio está, e espero que compreendam, que essas novas pautas de lutas surgiram de grandes e importantes lutas dos movimentos sociais. Os movimentos sociais conseguiram incluir estas questões no cerne dos debates e lutas atuais por maior representação política e social, bem como por direitos humanos. Esse novo momento social poderia ser caracterizado pelo termo "multiculturalismo".
O multiculturalismo é um passo essencial no caminho da representatividade política e social de grupos antes excluídos, ignorados e discriminados, embora traga consequências nefastas para a construção de um objetivo único ou minimamente coeso para a superação dos desafios prementes de toda sociedade. Sendo a construção desse objetivo coletivo possível ou não, o multiculturalismo contribui para dificultá-lo ainda mais, uma vez que facilita o que Bauman chama de "Dividir para reinar". Desde muito tempo que os reis compreenderam que a melhor forma de governar é fazendo que seus adversários se dividam e é isso o que justamente acontece na sociedade pós-moderna. Não temos mais objetivos emancipatórios comuns e muito menos uma ideologia que consiga dar esperanças de um futuro melhor. Bem, mas não é esse o tema dessa postagem.
Disse-lhes que o multiculturalismo teve e tem um papel importante na pós-modernidade na luta por direitos políticos e sociais. Um dos caminhos essenciais dos grupos que citei acima para a conquista de um lugar mais representativo no espaço social foi a auto-afirmação e a guerra contra o preconceito. Neste sentido, a batalha contra tudo o que soava como preconceito foi travada com muita força e energia, inclusive os termos politicamente incorretos e as piadas maledicentes. A vivência cotidiana e as interações são o palco da vida social e, se o preconceito não for eliminado dessa esfera da sociedade, é impossível que seja eliminado da estrutura social. Neste sentido, a guerra pública pelo politicamente correto é lógica e necessária.
Entretanto, quero lhes dizer que o exagero no politicamente correto faz da vida social uma chatice, uma mesmisse e uma homogeneização irritante do respeito. A pirraça deve continuar existindo na vida social! Ela faz parte do que aprendemos a compreender como "os imponderáveis da vida cotidiana". A vida já é repleta de regras sociais formais e informais. Chega de atribuir regras ao extremo, ao exagero. Admito e admiro a luta contra o preconceito, mas sou contra e totalmente contra à castração exagerada. Chegaremos ao ponto, ou já chegamos?, em que a forma da fala e os termos utilizados serão mais importantes que os atos. Vamos valorizar as atitudes e os atos políticos e não tanto a retórica, pois a retórica é o palco por excelência da hipocrisia. Já vi muitas vezes, as pessoas se importando mais com os termos com que as pessoas pronunciavam suas idéias, do que com o conteúdo das mesmas. Assim, poderíamos chegar num ponto em que um fascista seria mais politicamente correto, pelo menos nos seus discussos, do que o mais bravo e incansável militante gay ou feminista. Devemos ter cuidados com essas ilusões e procurarmos ser mais flexíveis, principalmente com as brincadeiras. O que temo, principalmente, é que sejamos obrigados a viver num mundo sem brincadeiras, sem as velhas "pirraças" e piadas, ou seja, um mundo em que a qualquer momento tenhamos que falar de coisas sérias e importantes e somente disso, pois como disse uma colega, "nenhuma piada é politicamente correta".
Pergunto-me, agora, todavia, onde será que está o equilíbrio entre a luta incansável contra o preconceito e a chatice de procurar ser e cobrar que os outros sejam politicamente corretos em todos os momentos de suas vidas? Só quero lhes dizer, a mais, que minhas piadas continuarão a ser politicamente incorretas, porque, senão, deixarão de ser piadas...

domingo, setembro 24, 2006

Certidões de Óbito e Nascimento


Depois de inúmeras tentativas frustradas
Descobre-se que a felicidade almejada na poesia
Se encontra fora da poesia
Na vida tão vida quanto a vida de todos
Mas esse aprendizado doloroso não desmerece a luta e o sonho
Ao contrário, dá-lhes uma aura de “tentei”
Ou ainda: “fui bravo”
E isto esconde a derrota
Que todos os outros nunca perceberão
Pois nem sabem que houve lutas e sonhos

Então percebe-se que a vida não se encontra em sistemas apriorísticos completos
Que supostamente substituiriam sistemas falidos
Então percebe-se que uma coisa é ter consciência do Mal
Outra é acreditar no Bem

E a Felicidade espera, paciente, no cotidiano
O consumismo e o espetáculo são partes inexoráveis do presente em que se vive
“Não se pode fazer uma fritada sem quebrar os ovos”
E lá vai a Felicidade com nariz de palhaço

Input
Output
Input once again

Atirei o pau no gato mas o gato não morreu

Lá vai a Vida
“Pega!”, grita a garotada na rua de baixo
E toda a classe trabalhadora deixa-a passar por entre as pernas
É hora do jogo e a cerveja gelada alegra o dia
Enquanto as mulheres conversam sobre os destinos da novela das oito
Os garotos conseguiram, enfim, capturar a Vida
Agora ela está presa em um saco de alinhagem

Marx não revolucionou o mundo
Nietzsche não tornou-se além do homem
Sartre não foi mais livre que Spártacus
Debord era parte do espetáculo
Mas dona Catarina, moradora do Sertão e devota de Nossa Senhora, viveu feliz
Em sua condição de penúria material

Coronel XXXXXX (não me cabe citar nomes) morreu triste em sua mansão
Construída com o suor dos negros - escravos libertos
Mais escravos do que antes

Lá vai a Felicidade
“Pega!”, grita Lady XXXX
Ela, que já deu pra tantos, nunca gozou para si própria
A Felicidade fugiu, mas ela conseguiu arrancar-lhe uns chumaços de cabelo
Em momentos forçados de gozo mercantil

Outsiders input
Liquidação de domingo
Filme de arte no cinema

Quem é feliz levante a mão
E o maneta se esforça em sinalizar balançando freneticamente os braços de um lado para outro

Luta de classes
Duas turmas do colégio de elite desentenderam-se a respeito das regras da gincana

Os trabalhadores vão à missa
E o papa arqueja palavras de sabedoria milenar

A realidade (em seus padrões fordistas)
Foi mais rápida que o pensamento dos poetas
E produziu verdades padronizadas em série
Mas amanhã já é domingo de novo
Fique tranqüila, filhinha, que eu te levo no shopping

Sex
Sex
Sex
In, out, in, out
Forever

Tem coisas que o dinheiro não compra
Para todas as outras existem Cards

Filhinha, já é noite, ore pra papai do céu

Eu observo tudo
Eu estudo tudo
Eu vivo tudo
Eu tudo tudo
Mas não entendo nada

Assim vou eu
E a minha vida também vai junto
Nós dois felizes
Sempre com narizes de palhaços

Eta, como dona Catarina é feliz!

quinta-feira, setembro 21, 2006

Quando é melhor calar-se

É difícil falar de algo quando não se tem nada a falar. No entanto há que se falar. Vivemos em um tempo em que falar, seja o que for, é imperativo. O silêncio incomoda. O silêncio não entretém. O silêncio é instante que alimenta a introspecção; que nos causa vergonha de olhar o outro e, por isso, nos faz olhar a nós mesmos. Mas o que temos para ver em nós mesmos? Verdade que nos identificamos enquanto eu a partir da visão do não-eu, ou seja, do outro. Mas é no momento de introspecção que esse eu formado em relação se identifica a si mesmo. Mas esse momento de introspecção nos é hoje doloroso. Quando estamos a sós no mais absoluto silêncio tratamos logo de ligar a televisão ou o aparelho de som em vista de abafarmos a nossa “essência” que poderia aflorar a qualquer momento. Inventamos algum barulho para nos levar para longe de nosso ser inconsciente. Passamos, dessa forma, a conformarmos nossas identidades a partir do que fazemos: daquilo que somos especialistas no mundo do trabalho; daquilo que ouvimos ou dos gêneros de filmes que assistimos; daquilo de que preferimos nos alimentar; daqueles com os quais preferimos manter relações sexuais etc. No entanto, nossa maior riqueza não está naquilo que fazemos, mas naquilo que sonhamos, mas que os constrangimentos naturais da vida em sociedade não nos permitem realizar na íntegra e que são agravados por um modo de vida social que nos faz sentirmos envergonhados de estarmos a sós consigo mesmos. Os momentos de absoluto silêncio e de solidão mortal já não são mais encarados como momento de apreender a si mesmo em seu íntimo, como na era pré-tv, ou melhor, na época em que a ênfase social se dava mais na produção do que no consumo. Na época do consumismo do entretenimento, o silêncio é abafado por um produto qualquer. Daí que o silêncio não seja mais tolerado nas relações sociais e que cause mal-estar quando as pessoas estão interagindo. Perdemos a capacidade contemplativa. Nos tornamos seres ávidos por consumir uma palhaçada qualquer, contanto que ela nos entretenha, nos tome o nosso tempo livre, nos livre do pesadelo de nossa própria liberdade. E, no entanto, valorizamos a nossa liberdade de poder sintonizar a Piatã FM ou a Itaparica FM. Eu, do meu lado, vou me calando por aqui...

Quando um abraço vale muito mais que um beijo!

Hoje sinto, com muito mais vigor, intensidade e prazer,
o sentimento delicioso de um abraço forte e cálido!
Sinto pulsar, sinto bater, sinto sofrer,
toda a dor de não poder voltar
àquele abraço terno, límpido, íntimo, contudo, fugaz.
Por que não volta, abraço meu, que nunca foi meu,
mas instantaneamente todo meu?
Meu em lembranças, em saudades,
em querer e principalmente em sofrer!
Trocaria, indubitavelmente, todos os beijos
que hei de ter dado em minha vida por ti, abraço meu!
Abraço meu, que nunca foi meu,
mas instantaneamente todo meu, em sentir,
e eternamente meu, em lembrar!

quarta-feira, setembro 20, 2006

A inexistência da "Universidade"....

Caros amigos, os dias têm voado. Durmo no domingo e acordo no sábado. Tenho a impressão ( não tão ligeira) de que o tempo tem passado mais depressa ultimamente... Enfim, essa lamentação toda nada mais é que uma explicação deveras pueril para o atraso desse post. Relaterei aos senhores uma situação que me ocorreu na última quinta-feira. Lá se foi uma semana inteira...
Também devo alertar que a profundidade e a polêmica que esse post pretende gerar não mantém o ritmo dos ótimos posts anteriores. Mas nem por isso me incomoda menos.

Ao fato. Vinha eu da uma excelente aula sobre Psicologia da Educação ( aqui cabe um parêntese. Apenas para assinalar que, desta vez, o "excelente" NÂO é ironia. A aula tinha sido realmente boa, porque a discussão fora relativamente profunda, envolvendo Piaget e Gestalt...). Vinha eu sem grandes pretensões de ver coisas boas naquele restaurante de ADM. Grande foi a surpresa ao notar que ali, naquele ambiente que me parecia dolorosamente familiar, algo novo surgiu: um violão, um cavaquinho, um pandeiro e uma flauta, junto com seus competentes "operadores". Um respeitável grupo de chorinho, ali, na pátio de ADM! Sim, também me pareceu surreal.. Mas era verdade.

É interessante como a música ( essencialmente a música instrumental, no meu caso) tem o poder de nos fazer viajar. Aquela quinta-feira era mais um dos meus dias reduzidos, estranhamente reduzidos, de forma que eu tinha mais tarefas que horas disponíveis. Mas dali, não consegui sair. O chorinho é um dos meus estilos preferidos, e por isso ali fiquei a pensar nas coisas belas da vida,naquele verde que as plantas exibiam ao serem atingidas pela intensa luz solar, que pintava o dia como um belo quadro de uma tarde de fevereiro, numa casa à beira-mar... Durante alguns minuto-reduzidos( não achei expressão melhor para essa nova unidade de tempo), não movi um só músculo. Esse tempo em contato com a arte me trouxe um ânimo extra, de forma que me senti revigorado para encarar mais quatro horas de aula de didática...

Pronto. Aqui acaba a parte bonitinha da história. Caminhei para a sala sentindo algum incômodo, mas não consegui identificá-lo. Suportei quase duas horas de aula, ainda sem entender o que me incomodava de fato. Apenas quando um colega exclamou sua insatisfação com o comportamento dos alunos da UFBA frente à mais evidente exibição artística (isso, aliás, foi a melhor coisa que ouvi em toda a aula de didática...)pude perceber o quanto era ofensivo o comportamento das pessoas que circulavam pelo pátio, durante a exibição do famigerado grupo de chorinho. Eu de fato havia notado, também, esse comportamento esdrúxulo. Contudo, tinha eu me voltando tão intensamente para dentro de mim mesmo, que não me atentei ao meu redor. Muitas vezes faço isso, o que me faz pensar que de vez em quando eu consigo pular aquele muro.Mas isso é uma outra história...
É deprimente que alunos universitários, reajam assim à arte. refletindo sobre o acontecido, cheguei à pergunta-chave: A culpa é de quem? A explicação de que aquela é a resposta típica do estudante de ADM, me parece rasteira. Afinal, nesse nosso modelo de "universidade", para quê estamos sendo preparados? No momento em que pensamos na mercatilização do diploma, com a explosão de faculdades pagas, gritando para o mundo que universidade não é apenas produção de diplomados, o que estamos fazendo para que a nossa universidade não se torne exatamente o que tanto criticamos? Ou melhor, será que nossa universidade já não é, de fato, muito mais parecida do que diferente desse modelo tão desprezível? Minhas conclusões não acabam aqui, mas como o post já ultrapassa os limites do bom senso em relação ao tamanho, sugiro que o debate corra para a sessão dos comentários... e vocês, o que acham??

domingo, setembro 17, 2006

Tirem suas próprias conclusões...

“Homem de preto, qual é sua missão? Entrar pela favela e deixar corpo no chão. Homem de preto, o que é que você faz? Eu faço coisas que assusta (sic) o satanás...”

Assistam: http://www.youtube.com/watch?v=FleRMcnTfMk

Sugiro que assistam esse aqui também, mas ele só pode ser assistido por quem é cadastrado no YouTube porque tem cenas "fortes". Recomendo, é o melhor! Prestem atenção às duas senhoras no meio do tiroteio.
http://www.youtube.com/watch?v=IWM4ei2yNA8

Sobre violência... e drogas...

Em minha experiência de trabalho de campo em uma rua (demarcada muito bem pelos moradores) atrás de uma área de tráfico de drogas muito conhecida, deparei-me com algumas questões interessantes. A vida lá, realmente, não é tão violenta quanto esperava ou como vemos nos noticiários televisivos e de jornais. A vida, como em qualquer outro bairro, segue seu rumo. As pessoas saem e chegam de madrugada e nada lhes acontece, divertem-se nos bares, conversam em frente as suas casas e deixam, durante o dia, a porta de suas casas abertas. Não é interessante?
Entretanto, constatei a partir das entrevistas, como o fato de haver um pico de tráfico de drogas próximo à área delimita as relações de sociabilidade dentro do bairro. Essa característica muda completamente a vida cotidiana das pessoas. Lembro-me bem quando perguntei a uma senhora se o bairro era violento. Ela me respondeu que para os "trabalhadores" não, pois os "vagabundos" os conheciam e respeitavam. Entretanto, ela deixou claro como o tráfico e as consequências imediatas do mesmo moldam as suas vidas. Ela disse que a vida lá é um perigo constante, pois eles sempre estão no meio da linha de tiro. Essa linha de tiro pode ser um conflito dos traficantes com a polícia ou um conflito entre gangues rivais, o que não é tão difícil de acontecer. Além disso, vemos que a presença da polícia no bairro, ao invés de fazer as pessoas sentir-se protegidas, faz com que elas sintam-se mais tensas, pois o tratamento do policial para com os moradores de uma área popular e ainda por cima próximo a um pico de tráfico é baseado no estigma e no pré-julgamento. É claro que esse comportamento não é consequência absoluta do tráfico de drogas e remete-se ao grande poder discricionário que os agentes da lei têm e isso nos remete a um problema estrutural da instituição policial.
A primeira conclusão desse post é a seguinte: embora a violência não reine nos bairros populares como se eles vivessem no estado de natureza hobbesiano, o tráfico interfere, e muito, nas suas relações de sociabilidade, fazendo com que, inclusive, a rua em que eu esteja trabalhando tenha tanto cuidado em se afirmar com um nome diferente da área do tráfico e chame uma outra rua que liga essas duas áreas de fronteira.
Quero voltar o objeto dessa postagem para a questão do tráfico em si. Como qualquer relação comercial, imbuída de uma organização racional, o tráfico está regido pelas leis de mercado mais puras, uma vez que não tem condições de ser regulamentado pelo Estado. É óbvio, entretanto, que sempre há uma regulamentação do Estado, seja pelo grande poder discricionário dos policiais que apoiam o tráfico, ou pelas propinas da polícia federal ou pela incapacidade do Estado de controlar suas fronteiras. Tomando o conceito de política pública como aquilo que o Estado faz ou deixa de fazer na realidade social, o tráfico poderia ser considerado uma política pública do Estado brasileiro. Mas isso é uma outra questão.
Mas, de uma maneira geral, o tráfico segue linearmente as leis do mercado. Quando há mais bocas, o preço diminui e aí advém dos conflitos entre as gangues. Quando há mais compradores, a droga provavelmente aumenta de preço e assim por diante.
O que quero dizer é, em que medida os usuários não financiam o tráfico? Para mim está claro que quem financia o tráfico são os usuários e eles podem ser de todos os tipos, negros, brancos, homens, mulheres, ricos, pobres, classe média, socialmente conformados, politicamente orientados etc. Não quero com isso dizer para as pessoas que parem de usar drogas para que o tráfico acabe, por um simples fato. As pessoas nunca deixarão de usar drogas e o tráfico também nunca deixará de existir. Acho apenas extremamente leviano ou romântico, para não dizer hipócrita, que as pessoas continuem usando drogas sem achar que contribuem para o tráfico.
Segunda conclusão: É hiprocrisia dizer que usa drogas, mas que não financia o tráfico.
Os usuários, principalmente de maconha, reclamam que têm de recorrer ao tráfico se quiserem fumar porque não podem plantar em casa e, além do mais, comprar é mais fácil, pois você pode ter a droga na hora em que quiser, mas plantar, tem que esperar toda uma série de detalhes para pode fumar. Isso, para mim, é mais uma atitude de fuga, porque se você não corre o risco de plantar, porque é proibido e você pode ser preso, você repassa esse risco para alguém.
Terceira conclusão: Para que você use sua droga e fique muito doido, outras pessoas estão correndo o risco de serem presos e outros riscos mais no seu lugar.
Essa postagem, companheiros, não tem um cunho moralista, não é isso. Mas tem um cunho de compreender o funcionamento verdadeiro, cotidiano, da base da nossa sociedade. Todas as nossas atitudes, embora sempre haja instâncias extremamente coercitivas de poder, geram consequências para a realidade social, construindo, cotidianamente e interacionalmente, uma nova estrutura social.
Nesse momento, eu retorno à questão da sociabilidade esboçada no início. O uso de drogas gera uma série de consequência para as comunidades onde os traficantes decidiram se instalar. É claro que para a microestrutura desse bairro, o tráfico não traz apenas consequências negativas, no sentido normativo do termo, mas também consequências positivas. O tráfico pode trazer uma série de melhorias para o bairro que o Estado não conseguiria fazer. Ele pode trazer renda para famílias que passam fome e, assim, contribuir para uma relativa melhoria das condições de vida de um bairro. Mas, ele traz também uma série de consequências negativas para o mesmo, desde o medo recorrente, até uma segmentação interna que manipula as relações de sociabilidade local e um estigma da sociedade ampla para com os moradores da área.
Em um exercício de imaginação sociológica, poderíamos fazer conjecturas sobre a extirpação do tráfico de drogas da realidade social brasileira (não quero entrar na questão da legalização, pelo menos aqui), e aí vocês me perguntariam: Trouxe mais consequências positivas ou negativas para a microestrutura local e para a sociedade ampla? Eu, sinceramente, não saberia responder...
Por fim, vocês poderiam me fazer mais duas perguntas: É por isso que você não usa drogas ilegais? Não... E, se você fosse usuário de alguma destas drogas, deixaria de usar por causa deste raciocínio? A resposta também é não...

Considerações de um ser desvairado a respeito do amor

A cada dia convenço-me de que somos aquilo que não somos. Convenço-me de que aquilo que não fazemos conta muito mais do que aquilo que fazemos. De fato, não fazemos muito mais do que fazemos. Nossos sonhos e desejos-pulsão transbordam por sobre a vida opaca. E apesar da miséria da minha existência objetiva, se vissem os meus sonhos e desejos como vêem a materialidade das minhas carnes diriam suspirando: eis um grande homem.

Talvez vossas senhorias encarem esta argumentação como uma fuga, uma auto-justificativa ou mesmo um “muro” artificialmente criado para que eu possa me orgulhar: se não fosse o muro... Na verdade eu concordo com vocês quando pensam assim. Mas o fato não invalida o argumento e, dentre os dois, eu fico com o segundo.

Eu fico pensando o quanto de felicidade eu já desperdicei devido àquilo que eu não fiz. E o outro tanto de felicidade que eu deixei escapar das mãos pensas por não acreditar que a felicidade existisse. Ah, senhores e senhoras, no entanto, tudo o que eu não fiz eu fiz em pensamento. E como é tudo tão belo e ordenado lá. A garota que amo e que, contudo, nunca soube desta minha infelicidade, pois nunca sequer demonstrei um mínimo de afeto e chego propositadamente a demonstrar o contrário, em meus pensamentos, em contraposição, vivemos um amor recíproco, profundo e ardente. Quantos belos discursos apaixonados eu dirijo a ela em meu mundo imaginário... E como ela se deleita com minhas doces palavras... Temos vivido dias perfeitos e o peso do mundo me é leve. No entanto, basta ela se aproximar em carne para eu me sentir mal e pesado como se uma bigorna me estivesse dependurada no pescoço.

Pois é, senhores e senhoras. Esse post é, no final das contas, sobre o amor. E comecei tecendo comentários acerca da existência não-existente por considerar este ser o verdadeiro terreno do amor. Não que ele não tenha a sua existência material, física e tangível. O contato é condição fundamental do amor e o gozo é seu ápice. Mas é no terreno da imaginação mútua que o amor encontra sua possibilidade de empatia. E no terreno da imaginação unilateral do amante solitário que o amor encontra sua expiação.

Oh, como me sinto culpado por amar demais. Queria eu odiar!, mas não me é permitido escolher meus sentimentos. Ah, se ela soubesse que a amo, que faria? Cuspiria em minha cara ou entrelaçaria seus braços aos meus em um gesto sublime de fusão mítica? Não, senhores e senhoras. É-me doloroso demais pensar que a primeira hipótese é a mais factível. Diante da visão do sofrimento mais absoluto me acometendo, recuo e nada faço. No entanto, a segunda hipótese se realiza sublime em meus pensamentos correntes sobre ela. Recuo perante a realidade. A felicidade me acaricia em sonho. E diante da não-ação a felicidade mais uma vez me escapa, enquanto continuo a não acreditar em sua existência.

terça-feira, setembro 12, 2006

Sobre drogas, manadas, ratos, tuberculose, romantismo e irracionalismo. Na verdade, o título é uma mentira!

Caríssimos, já que estamos no clima, me permitam compartilhar um pequeno texto que escrevi há algum tempo atraz, quando era um pouco mais jovem...

"Estou no meio do abismo, onde o vazio se propaga e os ecos do infinito se espalham de um canto a outro. É aqui, onde o tudo é o nada e o nada é um caminho sem fim, que eu me acho e me desencontro de mim mesmo. Sinto-me triste, sinto-me solitário, a minha vida não tem mais sentido. Estou cansado de viver essa existência burocrática cheia de leis e regras sociais. O universo do meu eu pede mais. Ele clama por liberdade, por cultura, por música, por filosofia e por amor. Estou cansado de ser a única estrela do meu universo mórbido. Preciso de uma outra estrela para ocupar o espaço do inferno secular que me queima, aqui, bem no fundo do meu clarão desesperançoso.
Estou a procura de um amor. Quero que seja como o sol e ilumine o meu intelecto sombrio. Quero que seja como a lua e me desperte um desejo caprichoso. Quero que seja como as estrelas e me guie para dentro de mim com confiança. Eu tenho medo. Estou ansioso. A confusão. O martírio. Estou dormindo. Meus olhos estão abertos. Mergulho de novo e a maré me carrega. As ondas me doem e as pedras me perfuram os pés. Eu não sou capaz. Eu sou um nada. A dor me persegue. As pessoas me olham diferente. Minha mãe tem pena de mim e o meu pai, vergonha. O túnel. Está girando. Estou com náuseas. Vou vomitar. O passado. As lembranças. As cobranças. Estou bêbado. As alucinações me rasgam ao meio. Os duendes me irritam. As fadas me consolam. Os elefantes me pisoteiam e me esmagam. Estou sóbrio. As alucinações continuam..."

A Era do Gelo e a era do aquecimento global

Pode parecer estranho, mas A Era do Gelo II é o melhor filme dentre os que assisti nessas ultimas semanas. Não pela história em si. Não pelo esquilozinho, coitado, que sofre horrores pra salvar sua comida. Mas sim pelo interessante conceito de personalidade que o filme ( intencionalmente ou não) traz.Não quero tirar a graça da surpresa daqueles que ainda pretendem ver a animação. Basta dizer que, na história, uma Mamute tem a convicção, a plena convicção, de que é um gambá. Obvio que se trata de um detalhe que retoca o humor de historinha infantil, mas não é só isso. Não passa de um detalhe para quem não procura pêlo em ovo ou agulha no palheiro, como esse que vos fala.

Em primeiro lugar, é um universo em que os animais raciocinam, dialogam, e refletem sobre sua condição de existência, e os amigos devem saber que no nosso "mundo real" apenas um animal carrega esse fardo: nós, esses bichos esquisitos, sem pêlos e garras, que não têm nenhum outro dom mais útil que o seu cérebro enorme. Animais que são psicologicamente humanos, possuem necessidades psiquícas humanas, é claro. Posso afirmar, com toda a certeza que uma pessoa pode ter, que Mamutes não alimentavam quaisquer dúvidas a respeito de sua "mamutilidade", como nenhum cachorro duvida que é cachorro. É muito mais fácil pra eles, porque seu pool genético responde todas essas questões supérfulas possibilitando sua concentração na sobrevivência, pura e simples. A preocupação do nosso mamute confuso nada mais é que um reflexo do carater humano que as animações em geral tem que dar aos aminais e outros seres.Nós, humanos, necessitamos responder, de imediato, algumas questões: o que estamos fazendo aqui? para onde vamos depois daqui? o que é certo fazer por aqui? e ainda, quem sou eu, o qual o meu papel aqui? Essa é a questão que o mamute responde no filme de um jeito, digamos, peculiar.

Essas respostas foram sempre dadas ao longo da história, em cada tempo e em cada sociedade, de formas singulares. Hoje em dia, o conceito de "eu" está desenvolvido no seu máximo. Somos talvez a primeira sociedade na historia desse planeta que consegue defender a idéia ( pelo menos ideologicamente) de que cada individuo é único, tem valores e qualidades idiossincráticas, e, portanto, deve ser livre de amarras e limitações. "seja autêntico", " faça seu estilo", são coisas que se ouve frequentemente hoje em dia, talvez mais até que "bom dia" ou "obrigado". Trazem uma ideia de personalidade tão individualizada quanto possível, e isso acaba tendo duas consequências "vantajosas": milhões e milhões de "estilos próprios" para o mercado de roupas, musicas, livros etc, preencherem; Uma despolitização e falta de percepção de um mundo social, da articulação dos interesses, que trava qualquer tipo de ação "subversiva", organizada e em massa, contra os absurdos do mundo capitalista.

Para apoiar tão concepção, o desenvolvimento de "explicações" genéticas para as ações, estilos e prefências individuais servem como referência científica. É interessante como tudo isso, todas essas respostas, que são socialmente construidas e individualmente compreendidas, ganham um ar de naturalidade, quando o são, de fato, escolhas arbitrárias de um animal que precisa simbolizar para conseguir viver. A medida dessa arbitrariedade torna-se visível quando constata-se que essa liberdade ou singularidade do individuo é uma grande mentira. Estamos todos sujeitos as leis e normas sociais e, em certa medida, somos muito mais parecidos que diferentes. Apenas queremos acreditar que somos únicos, "eu mesmo", assim como o mamute quis crer que era um gambá. Enxergar que tal processo é arbitrariamente humano, é o primeiro passo para diminuir sua fatalidade e interferir nessa inércia que se tornou a sociedade ocidental. É o primeiro passo para entendermos que essa forma de significar a realidade ( não discuto se ela é boa ou ruim. Não é ela quem precisa mudar, e sim as consenquências que ela traz)não pode estar pautada numa áurea de naturalidade que nos impessa de agir de forma mais socialmente articulada.
Agora eu pergunto, caro leitor, você está pronto para rever esses conceitos? não, claro que não. Ninguém está, nem mesmo eu, que escrevo essas bobagens. É por isso que esse mundo não tem mais jeito... Você acha que tem??

segunda-feira, setembro 11, 2006

Breve conto sob influência de Dostoiévski

Um dia qualquer. Ele, que não lembra de seus sonhos em sono, acorda com todos os sonhos do mundo, como diz o Pessoa. Sente-se malditamente bem ao pôr os pés no chão, após alguns momentos silentes sentado na cama, com os cabelos desgrenhados e os olhos semi-cerrados. Pensava no que faria durante o dia, pois tinha a mania de planejar as suas ações cotidianas (aquelas que ele faria mesmo sem planejar, como um autômato que talvez fosse). Enumerava mentalmente: urinar; lavar o rosto; estralar os dedos; tomar café; sentar no sofá; ligar a tv etc. Valorizava demais as ações mais banais da vida diária e chegou a formular um sistema filosófico inconsciente para justificar seu fracasso sempre que pensava em fazer algo que desviasse do rumo da banalidade e do vazio. Como no dia em que planejou convidar uma garota para sair. Já vinha reparando nela há algum tempo e lhe chamava a atenção a inteligência aliada à beleza. Mas nunca soube como abordar uma garota: tomado por um romantismo anacrônico nunca foi capaz de entender como os rapazes de sua idade abordavam garotas de forma tão direta, descompromissada e, pior de tudo, vulgar e, ainda assim, alcançavam seu objetivo. Sua abordagem honrosa sempre lhe rendeu terríveis e dolorosos fracassos. Enquanto conversava com uma garota sobre as coisas belas da vida, um terceiro pedia o telefone e dizia sem rodeios que a telefonaria à noite para saírem juntos. A garota, após este intervalo de esquecimento dele, voltava-se para ele com um olhar compreensivo, como quem caritativamente escuta o que tem a falar, mas não consegue esconder o anseio de retirar-se dali. Mas insistia na tática, pensando consigo mesmo que um dia encontraria a garota que cairia a seus pés devido a sua forma de abordá-la. E esta, pensava, será a verdadeira merecedora de toda a minha paixão. Julgava que desta vez não haveria erro. A garota em questão seria conquistada. Acordou com esse intuito e levaria tudo às últimas conseqüências. Passou o dia a pensar em cada frase, em cada palavra, em cada gesto a dirigir a ela. À noite, no último dia de aula, sentou-se ao lado dela. Conversaram bastante sobre diversos assuntos sobre os quais a manada nunca compreenderia. E, de fato, rostos perturbados e perplexos encaravam os dois a conversar, como a questionar como duas pessoas poderiam passar a aula inteira sem prestar a mínima atenção ao professor e, ainda por cima, para conversar sobre assuntos como aqueles. Mas nada atrapalhava a fluência do colóquio. A empatia era total. Era chegada a hora decisiva, o momento pelo qual esperou ansiosamente, o instante de pôr em prática aquilo que havia minuciosamente treinado. Mas um calafrio o perpassou subitamente. Pensou ter encontrado a garota dos sonhos e temeu jogar tudo por água abaixo em uma cartada arriscada e, quem sabe, precipitada. Resignou-se e, por um momento, o silêncio pairou sobre os dois. Ela puxou algum assunto. Ele, atordoado, pediu para que ela repetisse, pois não fora capaz sequer de escutá-la. A conversa voltou a fluir por uns instantes. Alguns minutos e ambos se despediram, cada qual tomando uma direção. Hoje se vêem esporadicamente e se tratam de maneira fria. Mas naquela noite ela não conseguiu dormir antes da alta madrugada, pois seu pensamento estava fixo no rapaz doce e poético que, no entanto, não tinha interesse nela. Lamentou-se pelo seu azar e convenceu-se de que seu destino era arranjar-se com algum rapaz da manada, grosseiro e maquinal. Ele, por sua vez, pensou ter feito a coisa certa ao nada fazer, pois havia se convencido de que seu destino era a solidão e que seu sistema filosófico inconsciente estava correto: tudo o que se distancia da banalidade e do vazio estão irremediavelmente fadados ao fracasso.

domingo, setembro 03, 2006

Dos cotidianos distintos

É interessante perceber como as pessoas vivem no cotidiano. Sim, porque eu não vivo como elas vivem, então acabo aprendendo bastante através da observação não-participante. Hoje, por exemplo, é domingo (16:15h). É possível escutar alguns sons característicos deste dia: garotos jogando bola na quadra do condomínio e gritando os típicos palavrões de um baba; um som mais ou menos distante de músicas populares (forró, axé, funk etc) a sair das caixas de som de um carro estacionado em frente a um bar; fogos de artifício bem longe (talvez um jogo do Bahia ou do Vitória); passarinhos cantando; conversas aqui e acolá soando como barulhos sem sentido; buzinas de carro na volta da praia etc. Durante os dias úteis, sentado em frente ao pc como agora estou, os sons são outros, com exceção dos pássaros a cantar: um ribombar estridente do bate-estaca de uma construção aqui perto; o barulho do cortador de grama no jardim; muitos carros; o som da ausência de crianças na quadra e no parque; o tremendo soar da tristeza etc. Sim, pois os dias úteis são os dias mais inúteis para a vida humana. São os dias-máquina (ver aqui), onde nossas ações são programadas segundo vontades alheias. Na terça-feira já estão todos a pensar que a sexta-feira está chegando e assim se reconfortam. O interessante é que com a reestruturação produtiva do toyotismo e a flexibilização e precarização do trabalho, bem como a diminuição de sua oferta em seu respectivo mercado, o grande sonho das pessoas é, hoje, manter-se neste mundo dos dias-máquina. A ausência do trabalho já não significa a realização do Ser, mas, pelo contrário, a condição do não-Ser. E alheios a tudo isso, os garotos continuam a jogar bola e eu aqui, tentando mudar o mundo na frente do computador.

O pátio de Durkheim...

O post anterior do meu grande amigo Scarlato - leiam-no primeiro -, me incentivou a escrever esse aqui. Falarei ainda do pátio Raul Seixas, da faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBa, o famoso pátio de São Lázaro.
O pátio de São Lázaro é um pátio democrático, que comporta várias tribos e movimentos sociais, desde homossexuais, movimento negro, inúmeros partidos esquerdistas ou de esquerda (sic) -segundo meu também amigo Fellipe, devemos usar esse "sic" ao falarmos de esquerda hoje-, movimentos feministas, cults, entre outros. Entretanto, o pátio só é democrático para os que estão dentro do que é considerado alternativo e vanguardista. Nada de movimentos ou tribos da burguesia, pagodeiros, axezeiros, ou quaisquer outras manifestações do que, fora de São Lázaro, é o padrão. São Lázaro é o lugar do não padrão, do diferente, do alternativo e, não podemos esquecer, do revolucionário. São Lázaro é um lugar revolucionário e é por isso que alguns de meus companheiros de Faculdade acham que todo cuidado com a CIA é pouco. E eu alerto: Cuidado senhores por onde andam, pois o capital os espreita!
Mas, voltemos. O pátio de São Lázaro - e o utilizamos como uma espécie de metonímia -, ou melhor, os alunos de São Lázaro se consideram como a vanguarda dos movimentos sociais e por essa prepotência acabam cometendo os mesmos atos que seus inimigos cometeram no passado. São obviamente evolucionistas sociais, embora critiquem o evolucionismo de direita. Devo lembrar, não falo aqui em termos propriamente políticos, mas comportamentais e de visão de mundo. O famoso "ser e estar" no mundo. Os alunos de São Lázaro se consideram a obra prima da sociedade, os intelectuais, esclarecidos, que não ouvem músicas toscas e freqüentam toda uma sorte de lugares cults e intelectuais. São sectários ao extremo e autoritários também. Estudam o relativismo cultural e o descentramento antropológico, mas acham que ele só deve funcionar para as chamadas sociedades simples. Não compreendem que o mundo urbano são vários mundos dentro de um só. São homogeneizadores da realidade social. Se dependessem deles só existiriam "intelectuais" como eles. Mas, que "piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii", "cara...piiiiiiiii" de cientistas sociais, principalmente, são esses? Como estudar a realidade social negando a existência do outro, sendo preconceituoso e etnocêntrico? Porque o que se faz lá é exatamente negar a existência do outro. O projeto de mundo dessas pessoas não é estudar a realidade social no estado em que ela se encontra - e vejam que utilizei o termo estudar, pois para qualquer mudança de qualquer cunho, a compreensão do funcionamento da sociedade é condição sine qua non -, eles querem transformar a sociedade e obrigar as pessoas a mudarem seu modus vivendi para se tornarem iguais à "vanguarda comportamental", sem qualquer tipo de diálogo com a sociedade, porque negam a existência do outro. Nesse ponto, são fascistas também. Tenho até medo do que aconteceria se essas pessoas chegassem ao poder.
Mas, sabe o que é pior desse posicionamento? É que ele é fundado no (pré)conceito, como já disse, e na negação dos padrões do outro, o famoso etnocentrismo. Essas pessoas julgam os outros a partir de suas visões de mundo e de seus parâmetros de conhecimento. Mas, tem um fato importante nessa questão. Independente de relativizar a academia ou não, os alunos que mais têm a atitudes descritas acima, são os alunos mais medíocres e ignorantes da faculdade. São aqueles que fundam a sua pauta de mediação simbólica em termos comportamentais pre-estabelecidos e se fecham no seu mundo. Geralmente, esses alunos não querem estudar e se importam mais com a "Raive" (como é que se escreve isso?) e maconha, ou com as leituras do partido, do que com a academia. Qualquer associação, na minha opinião, não é mera coincidência. O que quero dizer é que essas pessoas são IGNORANTES. Pronto, é isso o que acho delas.
O pátio de São Lázaro, que é a materialização espacial dessas pessoas, é o projeto acabadíssimo da consciência coletiva de Durkheim. Tente entrar lá com a camisa de ACM 25, ou tocando um pagodão no cavaquinho ou no pandeiro, aliás, coisas que eu já imaginei seriamente em fazer, apenas para ver o que acontecia. Imagine eu entrando lá nessa época de eleição com a camisa de Paulo Souto 25 - que foi proibida, mas mantenha a imaginação sociológica -, e tocando do de algum som, venha... venha... venha...; pegue na minha e balance... pegue na minha e balance...