sexta-feira, setembro 29, 2006

Da chatice do politicamente correto...

Caros amigos, constantemente eu venho sendo chamado a atenção devido a alguns "deslizes" nos termos que utilizo para algumas brincadeiras. Sinto na pele, quase que diariamente, algumas restrições relativas, principalmente, às brincadeiras que costumo fazer que, para alguns, são politicamente incorretas ou homofóbicas, sexistas, racistas, facistas e mais todos os "istas" que puderem imaginar. Entretanto, acho a imposição dos termos "politicamente corretos" uma chatice e uma verdadeira castração intelectual e humana.
Considero que a emergência do que se convencionou chamar de politicamente correto está relacionada à dinâmica da pós-modernidade. A pós-modernidade, em minha concepção ainda incipiente da mesma, admito, trouxe novas e importantes dimensões à questão de classe que se tornou clássica desde os ensinamentos do velho Marx. Agora não tratamos apenas da dicotomia entre o proletariado e a burguesia, entre o trabalho e o capital, entre o elemento revolucionário e o retrógrado. Tratamos hoje de questões mais complexas e que, sem dúvida, permitem que as pessoas estejam em lados opostos em um momento e sejam aliadas em outro. Estou lhes falando que a pós-modernidade incorporou na dinâmica de classe tradicional novos elementos como as questões de gênero, de sexualidade, de raça e de identidade de uma maneira geral. Sendo elementos principais da nova esquerda, a esquerda cultural, esses novos elementos passaram a interagir a se articular aos antigos padrões classistas. Óbvio está, e espero que compreendam, que essas novas pautas de lutas surgiram de grandes e importantes lutas dos movimentos sociais. Os movimentos sociais conseguiram incluir estas questões no cerne dos debates e lutas atuais por maior representação política e social, bem como por direitos humanos. Esse novo momento social poderia ser caracterizado pelo termo "multiculturalismo".
O multiculturalismo é um passo essencial no caminho da representatividade política e social de grupos antes excluídos, ignorados e discriminados, embora traga consequências nefastas para a construção de um objetivo único ou minimamente coeso para a superação dos desafios prementes de toda sociedade. Sendo a construção desse objetivo coletivo possível ou não, o multiculturalismo contribui para dificultá-lo ainda mais, uma vez que facilita o que Bauman chama de "Dividir para reinar". Desde muito tempo que os reis compreenderam que a melhor forma de governar é fazendo que seus adversários se dividam e é isso o que justamente acontece na sociedade pós-moderna. Não temos mais objetivos emancipatórios comuns e muito menos uma ideologia que consiga dar esperanças de um futuro melhor. Bem, mas não é esse o tema dessa postagem.
Disse-lhes que o multiculturalismo teve e tem um papel importante na pós-modernidade na luta por direitos políticos e sociais. Um dos caminhos essenciais dos grupos que citei acima para a conquista de um lugar mais representativo no espaço social foi a auto-afirmação e a guerra contra o preconceito. Neste sentido, a batalha contra tudo o que soava como preconceito foi travada com muita força e energia, inclusive os termos politicamente incorretos e as piadas maledicentes. A vivência cotidiana e as interações são o palco da vida social e, se o preconceito não for eliminado dessa esfera da sociedade, é impossível que seja eliminado da estrutura social. Neste sentido, a guerra pública pelo politicamente correto é lógica e necessária.
Entretanto, quero lhes dizer que o exagero no politicamente correto faz da vida social uma chatice, uma mesmisse e uma homogeneização irritante do respeito. A pirraça deve continuar existindo na vida social! Ela faz parte do que aprendemos a compreender como "os imponderáveis da vida cotidiana". A vida já é repleta de regras sociais formais e informais. Chega de atribuir regras ao extremo, ao exagero. Admito e admiro a luta contra o preconceito, mas sou contra e totalmente contra à castração exagerada. Chegaremos ao ponto, ou já chegamos?, em que a forma da fala e os termos utilizados serão mais importantes que os atos. Vamos valorizar as atitudes e os atos políticos e não tanto a retórica, pois a retórica é o palco por excelência da hipocrisia. Já vi muitas vezes, as pessoas se importando mais com os termos com que as pessoas pronunciavam suas idéias, do que com o conteúdo das mesmas. Assim, poderíamos chegar num ponto em que um fascista seria mais politicamente correto, pelo menos nos seus discussos, do que o mais bravo e incansável militante gay ou feminista. Devemos ter cuidados com essas ilusões e procurarmos ser mais flexíveis, principalmente com as brincadeiras. O que temo, principalmente, é que sejamos obrigados a viver num mundo sem brincadeiras, sem as velhas "pirraças" e piadas, ou seja, um mundo em que a qualquer momento tenhamos que falar de coisas sérias e importantes e somente disso, pois como disse uma colega, "nenhuma piada é politicamente correta".
Pergunto-me, agora, todavia, onde será que está o equilíbrio entre a luta incansável contra o preconceito e a chatice de procurar ser e cobrar que os outros sejam politicamente corretos em todos os momentos de suas vidas? Só quero lhes dizer, a mais, que minhas piadas continuarão a ser politicamente incorretas, porque, senão, deixarão de ser piadas...

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Caro Rafael,

Discordo de sua defesa da imoralidade e do desrespeito.

Ah. E me ligue depois pra gente marcar pra sair pra comê umas mulé...

8:46 AM  
Blogger Antonio Rimaci said...

Rafael, garanto-lhe a possibilidade de n ser politicamente correto o tempo todo, qdo estiver comigo.. já eh alguma coisa. Agora a vida social exige algumas adequações... e aquele que faz a piada, deve estar disposto a perder o amigo! rsrsrsrs

4:56 PM  
Anonymous Anônimo said...

Claro, claro. Mas perde-se o amigo, mas não a piada...

5:33 PM  

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