domingo, setembro 03, 2006

O pátio de Durkheim...

O post anterior do meu grande amigo Scarlato - leiam-no primeiro -, me incentivou a escrever esse aqui. Falarei ainda do pátio Raul Seixas, da faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBa, o famoso pátio de São Lázaro.
O pátio de São Lázaro é um pátio democrático, que comporta várias tribos e movimentos sociais, desde homossexuais, movimento negro, inúmeros partidos esquerdistas ou de esquerda (sic) -segundo meu também amigo Fellipe, devemos usar esse "sic" ao falarmos de esquerda hoje-, movimentos feministas, cults, entre outros. Entretanto, o pátio só é democrático para os que estão dentro do que é considerado alternativo e vanguardista. Nada de movimentos ou tribos da burguesia, pagodeiros, axezeiros, ou quaisquer outras manifestações do que, fora de São Lázaro, é o padrão. São Lázaro é o lugar do não padrão, do diferente, do alternativo e, não podemos esquecer, do revolucionário. São Lázaro é um lugar revolucionário e é por isso que alguns de meus companheiros de Faculdade acham que todo cuidado com a CIA é pouco. E eu alerto: Cuidado senhores por onde andam, pois o capital os espreita!
Mas, voltemos. O pátio de São Lázaro - e o utilizamos como uma espécie de metonímia -, ou melhor, os alunos de São Lázaro se consideram como a vanguarda dos movimentos sociais e por essa prepotência acabam cometendo os mesmos atos que seus inimigos cometeram no passado. São obviamente evolucionistas sociais, embora critiquem o evolucionismo de direita. Devo lembrar, não falo aqui em termos propriamente políticos, mas comportamentais e de visão de mundo. O famoso "ser e estar" no mundo. Os alunos de São Lázaro se consideram a obra prima da sociedade, os intelectuais, esclarecidos, que não ouvem músicas toscas e freqüentam toda uma sorte de lugares cults e intelectuais. São sectários ao extremo e autoritários também. Estudam o relativismo cultural e o descentramento antropológico, mas acham que ele só deve funcionar para as chamadas sociedades simples. Não compreendem que o mundo urbano são vários mundos dentro de um só. São homogeneizadores da realidade social. Se dependessem deles só existiriam "intelectuais" como eles. Mas, que "piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii", "cara...piiiiiiiii" de cientistas sociais, principalmente, são esses? Como estudar a realidade social negando a existência do outro, sendo preconceituoso e etnocêntrico? Porque o que se faz lá é exatamente negar a existência do outro. O projeto de mundo dessas pessoas não é estudar a realidade social no estado em que ela se encontra - e vejam que utilizei o termo estudar, pois para qualquer mudança de qualquer cunho, a compreensão do funcionamento da sociedade é condição sine qua non -, eles querem transformar a sociedade e obrigar as pessoas a mudarem seu modus vivendi para se tornarem iguais à "vanguarda comportamental", sem qualquer tipo de diálogo com a sociedade, porque negam a existência do outro. Nesse ponto, são fascistas também. Tenho até medo do que aconteceria se essas pessoas chegassem ao poder.
Mas, sabe o que é pior desse posicionamento? É que ele é fundado no (pré)conceito, como já disse, e na negação dos padrões do outro, o famoso etnocentrismo. Essas pessoas julgam os outros a partir de suas visões de mundo e de seus parâmetros de conhecimento. Mas, tem um fato importante nessa questão. Independente de relativizar a academia ou não, os alunos que mais têm a atitudes descritas acima, são os alunos mais medíocres e ignorantes da faculdade. São aqueles que fundam a sua pauta de mediação simbólica em termos comportamentais pre-estabelecidos e se fecham no seu mundo. Geralmente, esses alunos não querem estudar e se importam mais com a "Raive" (como é que se escreve isso?) e maconha, ou com as leituras do partido, do que com a academia. Qualquer associação, na minha opinião, não é mera coincidência. O que quero dizer é que essas pessoas são IGNORANTES. Pronto, é isso o que acho delas.
O pátio de São Lázaro, que é a materialização espacial dessas pessoas, é o projeto acabadíssimo da consciência coletiva de Durkheim. Tente entrar lá com a camisa de ACM 25, ou tocando um pagodão no cavaquinho ou no pandeiro, aliás, coisas que eu já imaginei seriamente em fazer, apenas para ver o que acontecia. Imagine eu entrando lá nessa época de eleição com a camisa de Paulo Souto 25 - que foi proibida, mas mantenha a imaginação sociológica -, e tocando do de algum som, venha... venha... venha...; pegue na minha e balance... pegue na minha e balance...

2 Comments:

Blogger Victor Scarlato said...

Fala, Arantes,

Bem, eu não quis ser tão brutal e direto como você foi. Mas, podemos considerar que aquele pátio é exatamente como você disse: o da intolerância para aqueles que não são os alternativos, seja em que concepção for que este termo abarca.
Assim como na Facom, acham que os alunos são muito alternativos e extremamente cult, lá dentro isso é uma falácia. O que impera é a maconha (signo do alternativo) e o promíscuo. Quem não conhece as famosas festas da Facom que são sexo, drogas e música da moda?
Não posso dizer que curto o pagodão, mas já aprendi a relativizar toda esta esfera.
O post mais engraçado até o momento.

Forte abraço

1:57 PM  
Anonymous Anônimo said...

O mais interessante acerca da postura alternativa (sic) na contemporaneidade é que ela não é alternativa. Vejam o que desenvolvi no meu blog extemporâneo no post "Da doença social" e vocês entenderão o quero dizer. Basta clicar em cima do meu nome ali...

4:41 PM  

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