domingo, setembro 24, 2006

Certidões de Óbito e Nascimento


Depois de inúmeras tentativas frustradas
Descobre-se que a felicidade almejada na poesia
Se encontra fora da poesia
Na vida tão vida quanto a vida de todos
Mas esse aprendizado doloroso não desmerece a luta e o sonho
Ao contrário, dá-lhes uma aura de “tentei”
Ou ainda: “fui bravo”
E isto esconde a derrota
Que todos os outros nunca perceberão
Pois nem sabem que houve lutas e sonhos

Então percebe-se que a vida não se encontra em sistemas apriorísticos completos
Que supostamente substituiriam sistemas falidos
Então percebe-se que uma coisa é ter consciência do Mal
Outra é acreditar no Bem

E a Felicidade espera, paciente, no cotidiano
O consumismo e o espetáculo são partes inexoráveis do presente em que se vive
“Não se pode fazer uma fritada sem quebrar os ovos”
E lá vai a Felicidade com nariz de palhaço

Input
Output
Input once again

Atirei o pau no gato mas o gato não morreu

Lá vai a Vida
“Pega!”, grita a garotada na rua de baixo
E toda a classe trabalhadora deixa-a passar por entre as pernas
É hora do jogo e a cerveja gelada alegra o dia
Enquanto as mulheres conversam sobre os destinos da novela das oito
Os garotos conseguiram, enfim, capturar a Vida
Agora ela está presa em um saco de alinhagem

Marx não revolucionou o mundo
Nietzsche não tornou-se além do homem
Sartre não foi mais livre que Spártacus
Debord era parte do espetáculo
Mas dona Catarina, moradora do Sertão e devota de Nossa Senhora, viveu feliz
Em sua condição de penúria material

Coronel XXXXXX (não me cabe citar nomes) morreu triste em sua mansão
Construída com o suor dos negros - escravos libertos
Mais escravos do que antes

Lá vai a Felicidade
“Pega!”, grita Lady XXXX
Ela, que já deu pra tantos, nunca gozou para si própria
A Felicidade fugiu, mas ela conseguiu arrancar-lhe uns chumaços de cabelo
Em momentos forçados de gozo mercantil

Outsiders input
Liquidação de domingo
Filme de arte no cinema

Quem é feliz levante a mão
E o maneta se esforça em sinalizar balançando freneticamente os braços de um lado para outro

Luta de classes
Duas turmas do colégio de elite desentenderam-se a respeito das regras da gincana

Os trabalhadores vão à missa
E o papa arqueja palavras de sabedoria milenar

A realidade (em seus padrões fordistas)
Foi mais rápida que o pensamento dos poetas
E produziu verdades padronizadas em série
Mas amanhã já é domingo de novo
Fique tranqüila, filhinha, que eu te levo no shopping

Sex
Sex
Sex
In, out, in, out
Forever

Tem coisas que o dinheiro não compra
Para todas as outras existem Cards

Filhinha, já é noite, ore pra papai do céu

Eu observo tudo
Eu estudo tudo
Eu vivo tudo
Eu tudo tudo
Mas não entendo nada

Assim vou eu
E a minha vida também vai junto
Nós dois felizes
Sempre com narizes de palhaços

Eta, como dona Catarina é feliz!