quinta-feira, novembro 08, 2007

Entre o mercado e a crítica

Serei acusado de plágio. Mas a situação pede que eu o faça, da forma mais descarada possível. O título acima foi ouvido por este que vos escreve pela primeira vez na última quinta. Na segunda,ajudou-me a compreender o maior fenômeno sociológico do meu dia.Todas as segundas e quartas tenho passado por um curso intensivo de doutrinação marxista rasteira. Nada mais natural que isso seja obrigatório, condição sine equa non para que eu consiga minha suada licenciatura, e possa garantir, pelo menos, o salario de fome de um professor. "marximo rasteiro" e "obrigatório" ficam bem juntos, não acham? Eu também.
Na sessão tortura desta segunda, fui surpeendido por uma bronca. Nossa professora-lider revolucionária, indignada, disse-nos em alto e bom som que éramos todos uns alienados por não estarmos por dentro do "protesto", não sermos contra o Reuni, não ocuparmos a reitoria e não estarmos dispostos a pegar em fuzis e mudar o mundo...Muito previsível, posto que é comum que os líderes da "revolução" expliquem o posicionamento diferenciado - qualquer que seja ele - como alienação, simples assim.O que me incomodou a ponto de me fazer superar a preguiça numa segunda-feira, pegar caderno e caneta e começar a escrever esse texto durante o próprio fenômeno foi a reação minha e de meus colegas.
Nossa líder exaltava o movimento estudantil de sua época, a ditadura, Che, Zapata, Rita Lee, entre outros, e absolutamente ninguém se empolgava. Ela, oradora experiente, partiu pro ataque: constrangeu cada individuo a dizer porque diabos não estava "na luta". As respostas? absolutamente homogêneas, do tipo: "acho importante, mas não quero, não posso, não acredito no movimento estudantil organizado em prol da revolução". Claro que quase nenhuma foi assim tão elaborada. Resolvi sair do meu marasmo e explicar o que sentia à minha desiludida interlocutora: "er... assim...eu acho que o Reuni tem coisas boas e ruins... Mas os estudantes não aceitam mais que decidam por eles se as coisas são boas ou ruins, há uma mudança de concepção, e isso gera acomodação...". Fui interrompido. Absurdo, completo absurdo. Ela concordava. A sociedade individualista impedia as ações coletivas. Ah, que monstro esse capitalismo...
Eu sei que você, leitor, entendeu que o que eu quis dizer não foi nada disso. E digo até que ela também entendeu. Mas a "crítica", nesta forma míope, sobrevive por reproduzir seu discurso contra o mercado, e pelo apoio que este mesmo lhe dá, numa contradição interessante. Explico. Segundo a monografia de um amigo meu, os jovens de hoje estão entre o mercado e a "crítica". Talvez eu esteja sendo infiel à formulação original ao entender a "crítica" como as velhas formas de manifestação coletiva, apoiadas no paradigma das classes sociais, característica do século passado, entre elas o movimento estudantil. Como esta "crítica" não contempla mais esse universo de demandas múltiplas, os jovens se afundam no mercado, e deixam para heróis voluntariosos e, digamos, limitados intelectualmente, eternizarem os símbolos revolucionários e ocuparem reitorias. Assim o jovem se livra do peso de criticar, e os heróis podem criticar o mercado e o FMI sem serem indagados (e ouvidos).Como eu cheguei a essa conclusão? Explico, também.
Após notar que a professora transformara completamente a minha fala, eu me indignei. Quis mostrar que o mundo mudou; que os jovens de hoje não se sentem representados pelas organizações estudantis; que a política institucional tem sido objeto de piadas, e somente delas, para os jovens; que eles resiginificam seus interesses em outros meios e canais, dentre os bilhares que surgiram desde o tempo dela, enfim, eu tinha um mundo pra falar. Mas tinha um joguinho legal no meu celular, tão colorido, divertido, empolgante, que eu deixei ela falando lá e fui jogar. Sim, eu fiquei com o mercado. Mas não sou contra a crítica não. Sigam criticando que eu apoio daqui, da frente do meu PC...