Sobre piriguetes e repolitização...
Mas enfim, esse não era o foco( e como é fácil perder o foco nessa brincadeira de blogar...)! Voltemos à contemplação passiva da nossa singela poluição visual. Vinha eu analisando como aquilo era agressivo. Como se encaixava numa forma de fazer política que ignora a discussão, apresentando verdades prontas aos eleitores sedentos delas. Refletia sobre a falta de politização de nossa política, o que é fato. Enfim, vinha eu pensando um monte de coisas que só devem passar, nesse país, pelas cabeças de loucos que resolvem estudar sociologia, formalmente ou por conta própria. Sentindo-me então isolado do mundo, resolvi olhar pro lado. Busquei uma companhia, ainda que ela se limitasse a um simples olhar amistoso.
Ela devia ter uns 20 e poucos. Estava com uma amiga sentada no banco logo atrás. Nesse exato momento em que buscava eu a bendita companhia, a moça jovem e notoriamente de classe média, virou-se para a amiga e soltou: " Olhe que cara de piriguete dessa loira? Ainda é capaz de ganhar, os homi tudo vota nessa porra!". A Loira "piriguete" era uma candidata.
Poucas vezes me senti tão só no mundo... Olhando a situação com os olhos da Antropologia Simbólica, é fácil perceber que os sinais que me remetiam a uma série de conhecimentos acumulados serviam, para minha colega de banco, apenas de sinal para o significado "piriguete". Mas essa reflexão não me ajudou muito. No fundo, é duro perceber que se debruçar em questões sociológicas hoje em dia é colocar-se, necessariamente, fora do universo semântico da maioria esmagadora da população. Simbolos classificadores do contínuo real são usados diariamente por todos nós. Mas é igualmente duro perceber que "piriguete" ou "homem do povo" são os símbolos usados em decisões políticas, como o voto, no nosso país. Soluções? Não faço idéia.Talvez o ensino da sociologia no ensino médios eja um primeiro passo. Talvez. O certo é que a situação vivida despertou, ainda que por alguns instantes apenas, a vontade de não ver a dureza dessa realidade. De não pensar tanto... É fácil entender porque alguns teóricos do social tiraram as próprias vidas...
Depois de perceber tudo isso, larguei a teoria de lado um pouco. Por alguns instantes, me livrei da sociologia e da ciência política, e quis ser um cara normal. analisei o nível de piriguetedade da cidadã... E não é que a bendita tem cara de piriguete mesmo???