domingo, outubro 22, 2006

Um olhar de um pseudo-sociólogo turista sobre a cidade maravilhosa

Caros amigos, para os que não sabem, eu estou passando alguns dias no Rio de Janeiro. Eu gostaria de fazer um relato de um turista que se apaixonou perdidamente pela cidade. Sinceramente, agora entendo quando meus amigos diziam que Salvador é uma província, um feudo. Salvador é, simplesmente, um lixo, como diz um amigo meu, comparado ao Rio de Janeiro. Pelo que vi - e só posso dizer do que vi, obviamente -, o Rio de Janeiro é muito melhor que Salvador. Digo isto também porque estou hospedado no Leblon e, até agora, só visitei os pontos turistícos, seguros e bonitos da cidade. Claro está, também, que estou completamente encantando com a cidade e, neste momento, não tenho condições mínimas de tentar manter a minha objetividade. Mas, enfim, o Rio de Janeiro é, simplesmente, lindo. O clima é totalmente diferente. É possível ver as pessoas aproveitando a sua cidade, andando no calçadão, usufruindo das praças e desenvolvendo uma sociabilidade - ainda que seja entre iguais, como vou falar mais adiante. Uma outra coisa que me chamou minha atenção, e como não poderia deixar de ser, pois sou filho de minha sociedade, foram as mulheres. As mulheres daqui são lindas demais. Meu Deus!!!!!!!!! Como as cariocas são lindas, cheirosas, arrumadas, sofisticadas, charmosas. Realmente, cheguei a conclusão de que Salvador não chega aos pés do Rio, ainda que as mulheres de Salvador, talvez, possam dizer que os homens de Salvador não chegam aos pés dos homens do Rio. Uma assertiva não anula a outra. Realmente, gostaria de parar por aqui, mas, como pretenso sociólogo, não pude deixar de observar três coisas que chamaram muito a minha atenção aqui no Rio:
1. Da incivilidade da classe média carioca e do estresse como bem comum
Meus queridos amigos, pude sentir como a elite pode ser bossal e exclusivista. Ao contrário da elite de Salvador, a elite do Rio aproveita a estrutura urbana e as opções de lazer público que a cidade lhes oferece. Em Salvador, a elite frequenta apenas os espaços privados e no máximo a praia de Alelúia, nos finais de semana. Entretanto, aqui no Rio, pude perceber como a elite é incivilizada, estressada e egoísta. Vou lhes contar três situações vividas por mim e por Léo, meu companheiro de bolsa de pesquisa e de viagem. A primeira situação foi quando estávamos saindo do prédio onde estamos hospedados, com duas bicicletas. Estávamos sem as chaves da porta do fundo e decidimos sair pela frente quando uma velha nos "flagrou" e fez questão de nos dar o maior sermão. O problema não foi o sermão, mas a falta de civilidade com que ela nos tratou, reclamando que o pessoal não liga para o prédio e coisas afins. O problema é que explicamos a ela que éramos hóspedes de um dos apartamentos e que, no momento em que estávamos saindo, não havia nenhum dos nossos anfitriões para nos orientar como agir, ao sair com as bicicletas. Ainda assim, a velha nos encheu o saco e saiu resmungando, mesmo com todo o nosso cuidado de pedir desculpas e explicar a situação. Ao pedirmos desculpas, ela respondeu: "Tudo bem. Já me chateei mesmo!". Enfim, as outras situações foram no calçadão e nas ruas internas do Leblon. Por duas vezes, eu observei as pessoas se estressando com as outras porque estas últimas estavam conversando no meio da passagem. Os comentários foram, mais ou menos, esses: "Que droga. Esse povo pára e não deixa a gente passar direito." Uma outra vez, no calçadão, estávamos pedalando tranquilamente e em paz quando uma mulher passou e reclamou: "Presta mais atenção". Ah, há ainda outra situação. Hoje, quando estávamos no Cristo, Léo subiu no parapeito para tirar uma foto. Logo que ele subiu, e antes que eu pudesse bater uma foto, mais uma vez, uma velha teve o prazer de dizer que era proibido e saiu dando risada, com um prazer quase sádico. Sinceramente, eu achei os cariocas de elite muito chatos, principalmente as pessoas mais idosas. Me perdoem a gerontofobia, mas que povo insuportável, raNzinza e incivilizado. Observei que embora a sociabilidade pareça florecer nos espaços públicos do Rio, ela é marcada por essa incivilidade e pela separação dos diferentes - disto eu falarei mais adiante, quando for falar do padrão racial da segregação no Rio. Uma outra coisa sobre a incivilidade é o estresse que vi nortear a relação entre as pessoas. Neste momento, não falo apenas da elite, pois vi estas cenas ocorrerem com trabalhadores. Na primeira situação, um caixa de uma agência de turismo atende uma ligação quando um cliente - que se anuncia como Coronel - pede para ele ver na loja do lado a cotação da libra. O caixa estava nos atendendo e não pôde sair para ver a cotação e passou a ligação para algum superior que passou o pedido para o caixa do lado. Neste momento, o caixa que estava no atendendo começou a reclamar e se estressar, dizendo que o coronel do telefonema e o seu chefe iam pensar que ele não foi ver o cambio por má vontade. Quando o outro caixa voltou, começou um bate-boca no meio da loja e na frente dos clientes. Quando, enfim, terminou, o caixa que estava nos atendendo falou: "Xó porque é coroniel, acha que eu tenho obrigaxção. Vai txi laxcar", em bom "carioquês", o que me fez dar boas risadas depois. Continuando, vi duas brigas no trânsito também. Um fiscal discutindo com um motorista que parou no lugar errado e um taxista muito "cavalo", me perdoem o termo chulo, que fez questão de parar e xingar uma mulher que estava dirigindo o carro da frente, apenas porque ela parou um pouco perto do meio fio para se certificar de onde deveria entrar. O taxista foi, realmente, muito bruto e estúpido com a mulher, a ponto de eu ter vontade de intervir. Mas, enfim, achei os cariocas muito estressados e, demasiadamente, incivilizados. Na verdade, nem todos. Tive o prazer de fazer amizade com uma vendedora de cerveja da Lapa e ela foi muito simpática conosco. Na verdade, eu acho que o habitus de classe explica um pouco da incivilidade da elite e a pressão pela manutenção da vida cotidiana pode ajudar a explicar os motivos do estresse nas relações ou nos horários de trabalho. Entretanto, isso não impede que eu diga que achei essa cidade muito incivilizada em termos de relações interpessoais.
2. O padrão racista da segregação socioespacial
Neste ponto, a minha observação é meio que um truísmo. Mas, realmente, pude percebê-la na prática. Por toda a Zona Sul, ou pelos lugares que andei - Copacabana, Leblon, Ipanema, Arpoador, Lapa (um pouco menos) -, quase não avistei negros frequentando os lugares, apenas como trabalhadores. Me estranhou, principalmente, o Leblon. Eu quase não vi negros no Leblon, com excessão, como disse, dos trabalhadores. Mesmo sem ter ido a nenhuma favela ou a nenhum bairro popular, eu pude perceber como a Zona Sul é um mundo diferenciado, porém, artificial. É uma área totalmente dotada de estrutura, segurança, uma orla linda e totalmente exclusivista. Bom, assim eu pude perceber. A hipótese óbvia da divisão histórica da sociedade brasileira - negros x brancos - continua a existir, pois, no Rio, enquanto os negros moram nas favelas, a elite branca vive uma existência diferenciada, morando no Leblon e se assistindo todas as noites na tela da globo, enquanto que os negros e favelados apenas se assistem no Jornal Nacional quando há tiroteios e mortes no Rio, dos quais eles acabam sendo culpados pelo imaginário social.
3. O medo da violência atrapalha as relações de sociabilidade?
Uma outra coisa que me chamou muito a atenção foi a questão do transporte coletivo. Primeiro que me surpreendeu saber que os ônibus rodam 24h, enquanto em Salvador, as 22:00h, as pessoas já ficam com medo de não voltar mais para casa. Eu sai do Leblon as 22:30h, de ônibus, em direção á Lapa e voltei as 1h da manhã, chegando no Leblon as 1:40h. Ainda tive que andar uns 10min pelas ruas do Rio de Janeiro e de madrugada até chegar no local onde estou hospedado. Confesso que, antes de ir á Lapa, estava com um pouco de receio. Mas, na volta, não tive receio nenhum. Não tive o mínimo medo de andar pelas ruas do Rio de Janeiro, de madrugada (é bom frizar). Interessante como as pessoas também não parecem ter medo de manter seus hábitos e costumes. Uma coisa que me chamou a atenção foi o ônibus. O ônibus que peguei passou pelo Leblon, Ipanema, Copacabana e Botafogo. Em todos estes bairros, que me parecem ser de classe média alta, fora Botafogo que ainda me parece um pouco mais de nível médio, eu vi pessoas destas classes se utilizando do transporte coletivo em plena noite. Isso não acontece em Salvador. A elite de Salvador não anda de ônibus, e ainda mais, para ir à festas a noite. Isso, para mim, foi uma surpresa. Eu vi não apenas jovens de classe média pegando ônibus no sábado a noite, mas também pessoas um pouco mais velhas, mas todos de classe média. Aí eu me pergunto, o Rio de Janeiro é tão violento como nos mostra a mídia ou a violência não chega nos bairros da Zona Sul e nos pontos turísticos? Eu cheguei a uma conclusão preliminar depois que um dos nossos anfitriões disse que nunca foi assaltado no Leblon e nunca ouviu ninguém dizer que foi assaltado por essas áreas. Para mim,parece que o Rio de Janeiro oferece uma qualidade de vida alta para suas elites, principalmente para aqueles que vivem na Zona Sul, enquanto que, durante a noite, o BOP (Batalhão de Operações Especiais da PMRJ) sobe o morro no Caveirão - carro parecido com um tanque de guerra, a prova de balas - para continuar a guerra do poder público contra os favelados.

4 Comments:

Blogger Fernanda Furtado said...

Adorei seu post. Não poderia esperar menos. Achei interessante você comentar sobre a incivilidade nas relações interpessoais, pois é esse individualismo o que mais dificulta para mim o convívio em espaços públicos em Salvador. É que o constrangimentos social me impede de ter ataques de incivilidade.

P.S. Continuo querendo morar no PROJAC.

Fernanda

9:53 AM  
Anonymous Anônimo said...

Hum... Pergunta para Fernanda. "(...)é esse individualismo o que mais dificulta para mim o convívio em espaços públicos em Salvador." Estou enganado ou você elogia o que Rafael critica?

8:20 PM  
Blogger Fernanda Furtado said...

Para Felippe,

Nem elogio, nem critico. Entendo. A incivilidade é consequência de uma forma de ver o mundo que, para o bem ou para o mal, faz parte de mim.

10:51 AM  
Anonymous Anônimo said...

kkkkkkk

Adorei!!!!!!!!

Nanda!! Nanda!! Nanda!! Nanda!!

Nietzsche não diria melhor...

1:44 PM  

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